Conheça o legado deixado por Nico Fagundes
O Jornal Zero Hora, que pertence ao grupo RBS TV, no Rio Grande do Sul, publicou um resumo do legado do músico tradicionalista Nico Fagundes, que morreu na última quarta-feira (24.06) em Porto Alegre/RS. Deixo aqui no Blog para que todos conheçam um pouco mais da história desta grande personalidade do tradicionalismo gaúcho.
Nico pesquisador
Mestre em Antropologia Social pela UFRGS, Antonio Augusto Fagundes constituiu uma sólida trajetória também como pesquisador. É autor de livros que resgatam e recontam a história e as histórias do Estado. Entre eles, está Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul, que compila quatro mitos e 94 lendas, propondo uma classificação para os relatoes e mostrando que o imaginário local vai muito além do Negrinho do Pastoreio.
Também de sua autoria é a Antologia da Poesia Épica no Rio Grande do Sul. Da ficção para os fatos, escreveu História do Rio Grande do Sul, em que discorre sobre os episódios fundadores do Estado e sua integração com a região do Prata.
Na mesma toada, a obra Revolução Farroupilha revive os eventos marcantes que se passaram entre 1835 e 1845 e O Combate da Ponte do Ibirapuitã evoca outro episódio formador da história do Rio Grande do Sul, a Revolução de 1923, que opôs chimangos e maragatos. Além de obras que realizam panoramas históricos, Fagundes se debruçou na investigação de aspectos específicos da cultura local, como atesta o livro Indumentária Gaúcha, que trata das vestimentas da gente local.
Nico no cinema
Nico Fagundes dirigiu dois longas-metragens nos anos 1970: Negrinho do Pastoreio (1973) e O Grande Rodeio (1975). O primeiro contou com nomes como Grande Otelo e Breno Mello (do clássico Orfeu) no elenco. O segundo, uma produção mais tímida, teve Rejane Schumann e Ayrton dos Anjos entre os protagonistas.
Ambos os títulos falam sobre aspectos da cultura regional – Negrinho do Pastoreio adapta a lenda homônima, enquanto O Grande Rodeio narra um triângulo entre a filha de um fazendeiro gaúcho, um pretendente carioca e o professor de folclore que ensina à garota as riquezas da história local.
Fagundes foi um dos roteiristas do clássico do "cinema de bombachas" Pára, Pedro! (1969) e atuou em outros longas, entre eles Ana Terra (1971), com Geraldo Del Rey, Pobre João (1975), com Teixeirinha, e Lua de Outubro (2001), com Marcos Winter. Na minissérie O Tempo e o Vento, exibida pela TV Globo em 1985, esteve ao lado de José Lewgoy, Lilian Lemmertz e Tarcísio Meira interpretando Bento Gonçalves.
Nico na música
É autor ou coautor de cerca de cem músicas, todas elas de caráter regionalista. O Canto Alegretense, que assinou em parceria com seu irmão Euclides "Bagre" Fagundes (Nico escreveu a letra, Bragre a musicou), é a mais conhecida delas. Foi criada em 1980 e apresentada pela primeira vez em uma edição do programa televisivo Galpão Crioulo de 1983.
Projetou-se de maneira a tornar-se um dos hinos do tradicionalismo, mas não foi a única contribuição de Antonio Augusto Fagundes ao cancioneiro gaúcho. As também clássicas Origens, Minha Querência e Lenço Branco, entre outras, muitas das quais com a repetição da parceria com Bagre, também têm versos assinados por Nico.
Em alguns casos, como o de Urubu, recolheu a canção do folclore popular e a registrou, documentando-a e garantindo a sua permanência através das gerações. Vinte e três canções, boa parte de autoria sua, de Bagre e dos sobrinhos Neto e Ernesto, integram o disco Os Fagundes (2001), que lançou o grupo homônimo – e permanece como seu disco mais conhecido do grande público.
Nico na TV
Por 30 anos, Nico Fagundes foi a identidade do Galpão Crioulo, programa da RBS TV. De abril de 1982 a maio de 2012, ele comandou a atração que abriu portas para muitos artistas tradicionalistas e nativistas do Rio Grande do Sul. Nesse período, Nico e a equipe do Galpão percorreram todo o Estado para mostrar não só a música como também os costumes e a cultura regional. E esprairam fronteiras ao gravar programas em Paris e Buenos Aires.
O bordão "Até domingo que vem, gaúchos e gaúchas de todas as querências!" virou uma marca registrada. O Galpão tornou-se a principal vitrine da cultura gaúcha. Nico apresentou quase 1,5 mil programas, nos quais passaram quase 3 mil músicos, entre eles Teixeirinha, César Passarinho, Gildo de Freitas, etc. Em 13 de maio de 2012, o apresentador despediu-se oficialmente da atração, passando o comando para seu sobrinho Neto Fagundes.