Filme sobre a vida de Cássia Eller traça o perfil de uma vida intensa

Nando Reis, Zélia Duncan e Lan Lan dão depoimentos emocionados e emocionantes no filme Cássia Eller. A companheira de muitos anos, Maria Eugênia, ajuda a traçar o perfil íntimo de uma vida que foi intensa. A própria Cássia chega a dizer que a música foi uma fuga da sua incapacidade de se relacionar socialmente. O filme estreou no dia 29.01, com 70 cópias. Esgotada a fase do cinema, deve ir para o DVD e a TV.

Talvez Cássia, o filme, não seja tão bom quanto Loki, outro documentário musical do diretor Paulo Fontenelle (sobre Arnaldo Antunes). Fontenelle conta que ouvindo Cássia Eller cantar pensou quão pouco sabia sobre a artista. A curiosidade levou-o a pesquisar. Descobriu uma figura ‘incrível’, como diz. "A Cássia era aquela força no palco, mas era muito tímida. Essa dualidade começou a me fascinar. A primeira coisa que fiz foi mandar um e-mail para a Eugênia, falando na possibilidade de um filme. Ela demorou um mês para responder, já achava que não ia rolar. Disse que o Chicão (filho da Cássia) tinha gostado de Loki. E me deu carta branca. Disse apenas que não queria que eu endeusasse nem demonizasse a Cássia. Liberou para abordar tudo. As drogas, os casos fora da relação. Foi uma coisa muito forte." 


Durante quatro meses, Fontenelle brigou com o material. Ele tinha 400 horas entre arquivo e gravações próprias. Como reduzir tudo isso para (menos de) 2 horas? "Tenho entrevistas muito boas com Milton Nascimento, Frejat e Luiz Melodia. Achei que serviria melhor ao material se contasse a história convencionalmente." Convencional talvez não seja a melhor definição. Linearmente. Do começo em Brasília ao teatro com Oswaldo Montenegro, o filme mapeia a formação e o estouro de Cássia. Mostra sua força no palco, a morte.

Cássia foi usuária de drogas. Até por conta disso, a mídia sensacionalizou sua morte, em 2001. Teria sido por overdose. A versão ficou. O filme esclarece que foi enfarte. São muitas histórias, muitas parcerias (na arte como na vida). Entre os muitos momentos intensos da cantora está aquele em que mãe e filho recebem um prêmio póstumo atribuído à sua obra. Cássia é um belo filme. Talvez seja um pouco redundante, insistindo em certos pontos, depoimentos. É intenso. "Tinha de ser. A Cássia era intensa", resume Paulo Fontenelle.

Blog Marcy Saffi